segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Uma questão em debate

Na última quarta-feira um forte terremoto atingiu a área central da Itália causando severos danos e deixando várias vítimas.

A cidade de Amatrice foi a mais atingida. Considerada um dos povoados mais bonitos da Itália teve seu Patrimônio Histórico destruído.
Amatrice destruida por terremoto em 24-08-2016
Grandes tragédias como essa são recorrentes. Podemos citar Varsóvia, destruída durante a 2o Guerra Mundial e São Luiz do Paraitinga, cidade Patrimônio do Estado de São Paulo, destruída por uma enchente.

A pergunta é: O que fazer com destruições dessa magnitude? 

- Reconstruir a cidade conforme antes?

- Deixar os destroços como testemunho do ocorrido?

- Construir uma nova cidade sobre os destroços?

No caso do centro de Varsóvia sua reconstrução foi feita de forma mimética logo após o final da guerra. Essa reconstrução teve como ideal a retomada de uma identidade perdida e foi assimilada como um ato de cidadania.

No caso de São Luiz do Paraitinga a igreja matriz, construída em taipa, foi reconstruída seguindo como base um estudo minucioso realizado alguns anos antes da tragédia por uma pesquisadora da USP (Universidade de São Paulo). A nova construção é uma réplica que utilizou técnicas atuais de construção (blocos de cimento).
Igreja Matriz de São Luiz do Paraitinga construída em taipa de pilão
Igreja matriz destruida pela enchente em 2010
Réplica da igreja. Reconstruída com blocos de cimento

Ao contrário do centro histórico de Varsóvia, cuja reconstrução foi considerada um ato de retomada de identidade, a reconstrução da Igreja Matriz de São Luiz do Paraitinga é bastante criticada por estudiosos da área. Vale lembrar que, no caso da cidade paulista, a população teve participação ativa na reconstrução dos seus bens culturais perdidos e apesar da opinião contrária dos órgãos públicos de preservação e pesquisadores da área a opinião da população local foi a que prevaleceu para a escolha de uma reconstrução mimética do que era a igreja matriz antes do desabamento.

No caso de São Luiz do Paraitinga lembramos da frase de Salvador Muñoz Viñas:

“ A restauração se faz para os usuários dos objetos: aqueles para quem o objeto significa algo, aqueles para quem o objeto cumpre uma função essencialmente simbólica ou documental ”

Salvador Muñhoz Viñas

Um outro exemplo bem emblemático é o da cidade Oradour-sur-Glane. Essa pequena vila francesa foi destruída após um terrível massacre de soldados nazistas já no fim da 2o Guerra Mundial. Por ordens do presidente da França os destroços da cidade foram mantidos como um símbolo das atrocidades cometidas durante a 2o Guerra Mundial.

Oradour-Sur-Glane antes do massacre
Oradour-Sur-Glane em luto após o massacre
Oradour-sur-Glane hoje

Outro exemplo de intervenção em casos de destruições é o Edifício Dançante, projeto dos arquitetos Vlado Miluníc e Frank Gehry. Construída em um vão deixado por uma bomba durante a segunda guerra mundial na cidade de Praga, essa obra ousada demonstra que construções contemporâneas  podem e devem ser integradas em ambiências antigas.

Edifício Dançante em Praga - Construção pós destruição bélica

* para mais informações sobre reproduções de obras arquitetônicas acesse o artigo de Beatriz Mugayar Kuhl em http://www.revistas.usp.br/cpc/article/viewFile/15641/17215

* para mais informações sobre o vilarejo de Orador-sur-Glane acesse:
 http://segundaguerra.net/oradour-sur-glane-a-cidade-fantasma-da-segunda-guerra/

* imagens da autora e da web - acesso em ago/2016

Postado por Cristiane Py

2 comentários:

  1. Ei Cris...
    É sempre complexo neh... mas no fim eu penso que a cidade é dos moradores. Estava lendo um outro caso que se relaciona de alguma forma com este debate no sentido da visão técnica divergir da opinião pública. É o caso de Dresden na Alemanha cuja população optou pela construção de uma ponte e assim perdeu o título de Patrimônio Mundial. Há uma linha muito tênue entre as políticas de preservação e a manutenção do desejo dos usuários.

    http://www.dw.com/pt/dresden-perde-t%C3%ADtulo-de-patrim%C3%B4nio-mundial-da-unesco/a-4433306

    Sempre pertinentes suas reflexões!!!!

    ResponderExcluir
  2. Oi Raquel.

    Muitas vezes há bens que são reconhecidos como Patrimônio da Humanidade e não os são para a população local. Isso é extremamente danoso para os bens culturais pois sabe-se que a melhor forma de se preservar um patrimônio edificado é o seu uso e o seu reconhecimento pela comunidade onde o bem está inserido.

    Também é um problema quando o bem é reconhecido por um determinado valor pela comunidade e por outro valor pelos técnicos gerando disso grandes discussões e disputas.

    No caso da cidade de Dresden ficam as perguntas:

    - Por que não fazer a ligação entre as margens subterrâneo? Resolveria o problema de locomoção sem intervir na paisagem.

    - Por que um elemento novo com uma arquitetura que representasse o nosso tempo não poderia ser inserido na paisagem sem ela perder o seu valor histórico?

    Acho que muitos casos poderiam ser resolvidos com mais diálogos.

    Seus comentários também são sempre pertinentes!!!!

    ResponderExcluir