terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Segue a dica: os livros de cabeceira.


Acima vemos a imagem dos livros que fazem parte da coleção Artes&Ofícios publicados pela Ateliê Editorial e que contém os principais textos dos pensadores que refletiram e atuaram na área da restauração e da preservação. 

Todos os livros contém textos de apresentação de estudiosos contemporâneos - Beatriz Kühl, Andrea Pane, Giovanni Carbonara, Maria Lucia Bressan Pinheiro, entre outros - que introduzem o leitor na rica leitura que se seguirá.

O livro número 01 - Restauração, de Eugène Emmanuel Viollet-le-Duc - foi assunto do segundo post do blog: O Arquiteto, O Pesquisador, O Inspetor, O Restaurador, O Gestor e também foi inspiração para o post Missão Cumprida.

O livro número 07  - A Lâmpada da Memória, de John Ruskin - foi assunto do primeiro post do blog - O Escritor, O Crítico, O Romântico, O Humanista.

Os demais livros são:

- Número 03 - Os Restauradores, de Camillo Boito.

- Número 05 - Teoria da Restauração, de Cesare Brandi.

- Número 08 - O Catecismo da Preservação de Monumentos, de Max Dvorák.

- Número 09 - Gustavo Giovannoni - Textos Escolhidos.

- e finalizando a coleção, o número 10 - Cartas a Miranda - Sobre o Prejuízo que o Deslocamento dos Monumentos da Arte da Itália Ocasionaria às Artes e à Ciência de Quatremère de Quincy.

Fica aqui a dica dos livros de cabeceira para todos os interessados na preservação do patrimônio edificado!!!


*imagens da autora

Postado por Cristiane Py

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

ArquiMemória 05 - Encontro Internacional sobre Preservação do Patrimônio Edificado

No final do mês passado teve início em Salvador - BA, o encontro internacional ArquiMemória 5. Foram 5 dias de palestras, mesas redondas, apresentação de trabalhos e lançamentos de livros voltados para a Preservação do Patrimônio Cultural.

Difícil expor tudo o que foi discutido no encontro mas resolvi eleger, para este post, um projeto apresentado pelo consultor da Unesco e arquiteto italiano atuante há mais de 50 anos na área da preservação e do restauro, Andrea Bruno.

O arquiteto abriu o primeiro dia de palestras falando sobre a sua vivência de criança no período de guerra; sobre as casas bombardeadas e destruídas; sobre os brinquedos quebrados e sobre as memórias perdidas.

Falou também da destruição dos Budas de Bamiyan no Afeganistão e das Torres Gêmeas em Nova Iorque (vamos fazer um post só sobre esse assunto, aguardem!) e mostrou vários projetos executados durante a sua carreira.

O projeto que vamos falar neste post será a restauração e adaptação em campus universitário do Fort Vauban na cidade de Nimes na França, projeto de 1991-95.

Escolhi para falar desse projeto por 2 motivos:

- Já falamos aqui no blog de uma intervenção na cidade de Nimes no post A importância do diálogo nas intervenções de restauro - Parte III.

- No post A importância do diálogo nas intervenções de restauro, finalizei colocando a questão abaixo:

"Seria válido apresentar um projeto que não atendesse ao edital do concurso? A resposta é sim. Apesar do risco de desclassificação há alguns casos de projetos vencedores com soluções mais bem resolvidas e que propunham novas diretrizes fugindo das impostas pelo edital."

O projeto, para restauração e adaptação do Fort Vauban do arquiteto Andrea Bruno em Nimes, foi vencedor de um concurso de arquitetura aonde ele propôs novas diretrizes, fugindo das que constavam no edital, acreditando que não só era importante a preservação do Forte, como também a preservação da memória do antigo presídio que funcionou no local até o ano de 1991. 

O partido do projeto buscou: o mínimo de demolições; revitalizar as construções pré-existentes; não apagar os traços do tempo e construções novas não sobrepostas às existentes. Além disso, as novas intervenções foram projetadas de forma a serem apoiadas e reversíveis e explicou que reversível não significa provisório, mas sim que possibilite novas adequações no caso de mudança de uso ou novo programa.

Abaixo imagens do projeto.

Croqui

imagem aérea google earth
Passarela de acesso sobre o antigo fosso do Forte
À esquerda nova edificação.
À direita edificação revitalizada.
Teatro com estrutura de fácil reversibilidade (no caso de mudança de uso ou novo programa)
Conforme falei no começo do post, foram 5 dias de ricos debates. O projeto da Universidade de Nimes foi apenas um dos vários bons projetos apresentados no encontro, mas continuem acompanhando o nosso blog pois postaremos interessantes temas discutidos no ArquiMemória 5.

* imagens da web - acesso dez-2017

Postado por Cristiane Py

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Castelo Saliceto - Um projeto de restauro


A imagem que vemos acima é do Castelo Saliceto, na Itália, após intervenção de restauro de autoria do escritório de arquitetura armellino&poggio.

Esse projeto, vencedor do Prêmio Internacional Domus Restauro e Conservação Fassa Bartolo, prevê o uso da edificação como uma garantia para a sua preservação (lembrando que o uso é uma das principais premissas para a conservação de um bem cultural).

A construção do castelo, resultado de sucessivas transformações, ainda mantinha as características típicas de uma arquitetura fortificada apesar da perda de uma das 4 torres do conjunto.

Abaixo, vemos imagens do projeto onde podemos visualizar a edificação antes da intervenção e a proposta de restauro.

A nova torre, que usa materiais contemporâneos, recompõe a volumetria do conjunto sem criar um falso histórico. A nova estrutura, independente da edificação pré existente, comporta a circulação vertical com escada e elevador.

"A restauração, para representar uma operação legítima, não deverá presumir nem o tempo como reversível, nem a abolição da história."

Cesare Brandi - Teoria da  Restauração - pag. 61




Para mais detalhes do projeto de restauração do Castelo Saliceto acesse os sites abaixo:


*imagens da WEB - acesso em nov/2017

Postado por Cristiane Py

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Frase inspiradora:

"Tanto a revitalização de um edifício existente quanto a inserção de uma obra moderna em um entorno histórico são, [...], operações extremamente delicadas. Não só pelos efeitos da incorporação de nova tipologia funcional, que pode ser necessária, mas pela qualificação formal dessa tipologia que, sem cair na mera imitação, seja capaz de alcançar a continuidade cultural que foi natural na arquitetura durante séculos, sem perder por isso sua própria modernidade, essa continuidade tornada tão difícil pelas grandes transformações do século XIX e pelas transculturações que caracterizam nossos países [latino-americanos]."

Marina Waisman
O Interior da História: historiografia arquitetônica para uso de latino-americanos - pag.194

Postado por Cristiane Py

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Seminário Internacional de Segurança Contra Incêndios em Edificações de Interesse Histórico

Incêndio Museu da Língua Portuguesa - SP - 2015
Na semana passada aconteceu em São Paulo o Seminário Internacional de Segurança Contra Incêndios em Edificações de Interesse Histórico realizado pela FUNDABOM - Fundação de Apoio ao Corpo de Bombeiros da PMSP.

O seminário abordou importantes questões  para a preservação do patrimônio edificado em um momento que nos deparamos com vários casos recentes de incêndios. Só em São Paulo podemos citar: o auditório do Memorial da América Latina; o incêndio no Instituto Butantã (com a perda de um dos maiores acervos biológicos do mundo) e o Museu da Língua Portuguesa. 

Incêndio Instituto Butantã - SP - 2010
Vamos falar de algumas questões que foram debatidas:

- IT40 - Instrução Técnica 40 do Corpo de Bombeiros de São Paulo. Voltada para a segurança contra incêndio às edificações históricas e de interesse do patrimônio histórico-cultural, a IT 40 de 2011 está sendo revisada, sendo um dos objetivos do seminário a elaboração de um documento de referência que auxilie esta revisão.

- O Incêndio do Museu da Língua Portuguesa - SP -  Após análise dos vídeos, vistorias e laudos, foi verificado que o foco do incêndio aconteceu na área da exposição temporária. Verificou-se que a cenografia, com muitos livros, madeiras e tecidos, aumentou a carga de incêndio prevista para um museu. A alta carga de incêndio do local (tecidos, papéis, madeiras) estava incompatível com a baixa carga considerada no projeto. A parte elétrica também foi alterada para atender a exposição, aumentando a carga da iluminação do ambiente. A falta de compartimentação na edificação ajudou a rápida propagação do fogo. 

Conclusão: será proposto, na revisão da IT40, que exposições temporárias deverão ter os projetos aprovados pelo corpo de bombeiros e avaliados caso a caso e, se necessário, deverá ser previsto um complemento da segurança de acordo com a carga de incêndio prevista, o uso e a quantidade de público. O controle de material (ignifugantes) no uso de exposições temporárias também será proposto.
Incêndio Memorial da America Latina - SP - 2013
Incêndio Memorial da America Latina - SP - 2013
- O Incêndio no auditório do Memorial da America Latina - SP - O foco do incêndio foi confinado em uma área técnica de difícil acesso, localizada entre a cobertura e o forro. Os bombeiros chegaram ao local com menos de 5 minutos do chamado. O projeto de arquitetura, que não previa um escoamento da fumaça, fez a edificação se tornar, nas palavras do 1o tenente Alexandre Proença, um forno de concreto com forro de madeira, dificultando o trabalho dos bombeiros. A quebra dos vidros das janelas para escoamento da fumaça foi a primeira atitude a ser tomada, mas uma forte explosão fez com que todos tivessem que se retirar do local.

Incêndio em Casarão Histórico da cidade de Iguape - SP - 2017

- As cidades históricas - Muitas cidades patrimônio cultural não possuem corpo de bombeiros. No caso da cidade de Iguape, o corpo de bombeiros se localiza na cidade vizinha de Ilha Comprida.

- Atualmente os projetos em edificações tombadas são primeiramente aprovados nos órgãos de preservação (municipal, estadual e federal) para depois serem aprovados pelo corpo de bombeiros. A sugestão é inverter a ordem de aprovações, sendo o corpo de bombeiros o primeiro a avaliar o projeto. Essa sugestão foi proposta por profissionais que trabalham como técnicos dos órgãos de preservação.

- Construções em taipa e adobe foi outro assunto discutido em função da inviabilidade de sistemas de hidrante embutidos nas alvenarias, bem como a água poder causar tanto dano na edificação quanto o fogo. A sugestão foi o uso de coluna seca e externa e extintor com gás inerte ou névoa de água.

- A comissão técnica do corpo de bombeiros está aberta para análise dos argumentos que proponham um projeto de intervenção em um patrimônio edificado que fuja às regras gerais, tendo consciência que no caso do Patrimônio Cultural nem sempre as regras poderão ser seguidas. A avaliação caso a caso também é adotada para projetos novos e reformas. No caso do SESC 24 de maio em São Paulo, a não compartimentação vertical foi compensada por projeto de sprinkler adicional na área da rampa que atende a todos os pavimentos.

- Todos os palestrantes (nacionais e internacionais) comentaram que é durante as obras que a edificação patrimônio cultural fica mais vulnerável a incêndios. Foi citado o caso do incêndio do Castelo de Windsor em 1992 e do Templo Horyu no Japão em 1949, neste último com a perda de um afresco.
Incêndio Castelo de Windsor durante as obras, Inglaterra - 1992
- No caso de acervos de bibliotecas, recomenda-se o uso de névoa e não de água ou o sistema que reduz o oxigênio com a substituição por nitrogênio que permite a respiração dos ocupantes. No caso de documentos molhados, estes devem ser congelados para melhor preservação.

- No Museu do Louvre não há brigada de incêndio, mas sim um corpo de bombeiros próprio.

- O Reino Unido já adotou, desde 2006, a fiscalização pelo corpo de bombeiros nas edificações. Mudança cultural que está dando resultado para a diminuição de sinistros.

Sistema de combate à incêndio - Shirakawa-go, Japão
- A preocupação em evitar incêndios não deve ser focada só no patrimônio mas também no seu entorno, principalmente nas cidades antigas onde as edificações são coladas uma nas outras. No Japão é adotado o sistema Drescher, que podemos explicar como um chuveiro dilúvio (ver imagem acima).

- Para finalizar devemos ter consciência que tão importante quanto o AVCB é a gestão das edificações. A manutenção cotidiana e o controle dos circuitos elétricos, da prática de fumar, dos trabalhos a quente e das alterações de layout ou de uso, bem como treinamentos e simulados, são fundamentais para a diminuição de sinistros.

*imagens da WEB - acesso em outubro-2017

Postado por Cristiane Py

terça-feira, 10 de outubro de 2017

Um exemplo de recuperação de estrutura em concreto armado

Tivemos vários posts no blog falando de técnicas de restauro dos ofícios tradicionais. Por isso hoje vamos falar do restauro de estruturas em concreto armado, tendo como exemplo um trabalho fiscalizado pelo nosso escritório.

O trabalho, que apresentaremos neste post, foi a revitalização de sacadas de edifício residencial. As estruturas recuperadas se referem as lajes de concreto do piso do terraço em balanço dos pavimentos tipos.

Como poderemos observar nas imagens abaixo, a estrutura de concreto se encontrava deteriorada por causa da oxidação das armaduras.

Após a retirada dos guarda-corpos em alumínio se evidenciou ainda mais a degradação.

Abaixo imagens dos componentes da estrutura/fixação em ferro dos guarda-corpos mostrando seu estado de deterioração.

O primeiro procedimento para recuperação da estrutura foi escarificar a área da laje onde ocorreu oxidação das armaduras. Nas imagens abaixo temos a estrutura já sem o concreto desagregado e a armadura limpa.

O passo seguinte foi tratar a armadura com Nitto Primer (material de galvanização a frio) 

Para melhor aderência do concreto novo com o antigo foram utilizadas telas metálicas galvanizadas, além do uso do adesivo Compound. Em seguida executou-se a forma de madeira.

Abaixo vemos a laje refeita e o piso da sacada em granito já recuperado. Reparem o detalhe do pino em aço inoxidável fixado com bucha química substituindo o antigo componente de fixação de ferro.

Conclusão:

A degradação da estrutura em balanço de concreto armado das sacadas foi causada pela infiltração de água e oxidação da ferragem ocasionando rachaduras, desagregação do concreto e surgimento de vegetação.

A infiltração da água na estrutura surgiu no local da fixação dos guarda-corpos em função da não compatibilidade entre ferro e alumínio.

*imagens da autora

Postado por Cristiane Py

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Segue a dica: visita ao centro histórico de Santana de Parnaíba - SP

Acredito que muitos paulistanos não conheçam mas bem próximo da nossa cidade encontramos o centro histórico da cidade de Santana de Parnaíba reconhecido desde 1982 como Patrimônio Histórico pelo CONDEPHAAT - Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico. (DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DE SÃO PAULO).
Fica tombado o Centro Histórico da Cidade de Santana de Parnaíba, [...], como conjunto de importância especial e de interesse maior por possuir valores de ordem histórica, arquitetônica e urbanística que o situam de modo relevante no Patrimônio Cultural do Estado de São Paulo.

A cidade, fundada no ano de 1580, é um dos primeiros núcleos urbanos do interior de São Paulo, bem como também foi a pioneira na geração de energia elétrica. Além do patrimônio edificado, representado por construções em taipa (algumas já reconhecidas pelo IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional desde 1958), a cidade também é rica em patrimônio imaterial (1), com festividades no decorrer do ano inteiro, recebendo um público numeroso.
Além de possuir interesse histórico e cultural, a cidade também faz parte de três  roteiros integrados, a saber: ela é o marco zero da rota turística denominada Caminho do Sol, com destino à Casa de Santiago, em Águas de São Pedro, rota inspirada na proposta do Caminho de Santiago de Compostela; é parte integrante do roteiro histórico-cultural conhecido como Roteiro dos Bandeirantes, que abrange 9 cidades relacionadas à expansão bandeirante; e também integra o Circuito Taypa de Pilão, roteiro turístico histórico-cultural de visitação em imóveis construídos em taipa e tombados pelo IPHAN.
Outro fator importante é concernente ao fato de que o centro histórico está localizado a apenas 35 km do maior centro metropolitano do país, a Grande São Paulo, de modo a poder receber turistas e estudantes sem a necessidade de realização de longas viagens ou de alojamento local.
Fica então a dica de passeio para o fim de semana!
* imagens da autora
Postado por Cristiane Py


1 - As festividades que constam no calendário da cidade são: Carnaval, Drama da Paixão, Festa do Cururuquara, Corpus Christi, Encontro de Antigomobilismo, Festa da Padroeira da Cidade, Presépio e Cantada de Natal. Além desses eventos, também tem-se a Feira de Artes e Artesanato e o evento Música da Praça.

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Curiosidade - O Rockefeller Center sem a pista de patinação.


A preservação do patrimônio moderno vem gerando várias discussões referente à metodologia e às técnicas a serem utilizadas.

A existência de documentos (desenhos, plantas, perspectivas, fotos, vídeos, maquetes, etc..) é o que gera mais discussão pois se acredita que, tendo esses documentos em mãos, seja possível reverter a edificação ao seu original ou até reconstrui-la (ver o post Check Point Charlie).

Com já foi citado em outros posts, o restauro do patrimônio edificado não visa um retorno do bem à sua configuração original pois as marcas, mudanças e acréscimos ocorridos durante o tempo também fazem parte do patrimônio e devem ser estudadas e analisadas segundo metodologias próprias.

Ao introduzirmos essa questão, gostaria de falar de uma curiosidade referente ao complexo do Rockefeller Center localizado em Nova Iorque - EUA e reconhecido como patrimônio nacional.

Segundo Kenneth Frampton, o Rockefeller Center começou como uma grande peça de desenvolvimento imobiliário, com base no desejo do Metropolitan Opera Company de ter um novo auditório em um novo local mas, em função da crise, os planos mudaram e quem se instalou no complexo foi a Radio Corporation of América e suas subsidiárias. Ou seja, é muito comum uma construção não seguir as idéias do projeto inicial sendo ele modificado várias vezes (além das mudanças ocorridas durante a execução da obra que acabam não sendo registradas).

Bom, o mais curioso do projeto do Rockefeller Center está relacionado a sua famosa pista de patinação ao ar livre. Essa pista não fazia parte do projeto original. Ela e os restaurantes foram construídos, segundo Frampton, alguns anos depois em função da falência das lojas que haviam sido previstas inicialmente.

Não só o Rockefeller Center mas muitas outras edificações passaram por transformações e mudanças  no decorrer do tempo. Ao se restaurar um patrimônio edificado deve-se sim usar como material de pesquisa todos os documentos disponíveis mas lembrando que serão os valores culturais do patrimônio (cognitivos, formais, afetivos, pragmáticos e éticos, segundo Menezes) que deverão ser levados em questão.

* imagens da autora
Postado por Cristiane Py

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Jornada do Patrimônio: a técnica do micro jateamento.

No fim de semana dos dias 19 e 20 de agosto aconteceu na cidade de São Paulo a Jornada do Patrimônio. Foram 2 dias de visitas a imóveis históricos, roteiros de memória, oficinas, palestras e apresentações artísticas.

A programação foi ampla, atingindo todas as regiões da cidade, o que torna bem complicado falarmos da Jornada por inteiro, por isso selecionei, para este post, apenas a oficina Os Desafios da Limpeza de Superfícies de Edificações Históricas: o caso do Theatro Municipal.

Acho importante comentar que em 2015 desenvolvi um trabalho sobre cantaria para o Curso de Gestão de Restauro do CECI. Neste trabalho segui um roteiro no Centro de São Paulo analisando os danos e as patologias em pedras de cantaria. O Teatro Municipal fazia parte desse roteiro e um dos maiores danos na cantaria do teatro verificado na época foi o grafitismo (pichação).

Na oficina da Jornada tive oportunidade de participar da limpeza que está sendo executada na fachada incluindo a limpeza do grafitismo, patologia já verificada em 2015.

A técnica, testada e adotada pelo escritório Pires Giovannetti Guardia, foi o do microjateamento com areia garnet abrasiva. O trabalho foi nos apresentado pelos arquitetos Juca Pires e Mariana Rillo e realizado pela equipe do escritório.

Abaixo algumas imagens do processo.

aplicação do microjateamento com areia garnet abrasiva.
Importante falar que a pressão do jato bem como a sua duração foi testada previamente em cada superfície.
parte superior grafitismo não removido
parte inferior grafitismo removido
grafitismo removido. Percebe-se um pequeno clareamento na área aonde foi aplicado o micro jateamento
Após a limpeza, é aplicado, por pulverização, um produto unimineral para proteção da cantaria. Esse produto não permitirá que a tinta de futuros atos de vandalismo se impregne na cantaria, permitindo uma fácil remoção.

O trabalho da limpeza do grafitismo na fachada poderia ter sido evitado se a sociedade tivesse consciência do valor histórico e cultural do monumento ou seja, investimentos devem ser feitos não só para o desenvolvimento de técnicas para preservação e restauro do Patrimônio Edificado mas também para a Educação Patrimonial que, ao meu ver, deve ser iniciada já na educação infantil.



*imagens da autora - 19-08-2017

Postado por Cristiane Py

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Frase inspiradora:

"..., o novo deve produzir-se segundo metodologias científicas e o velho deve ser conservado segundo metodologias científicas. Portanto, o debate não é entre velho e novo, nem tampouco entre pessoas que gostam do velho e pessoas que gostam do novo, mas entre duas disciplinas cujas diferenças metodológicas sempre poderão resolver-se no plano dialético."

Giulio Carlo Argan
História da Arte como história da cidade-pag. 89

Postado por Cristiane Py

terça-feira, 8 de agosto de 2017

Museu de Congonhas - um livro aberto sobre o santuário, a obra de Aleijadinho e a cultura brasileira.

Essa semana saiu uma matéria na revista Veja falando sobre os "museus de identidade" que surgiram ou que estão em fase de projeto no Brasil. Entre eles podemos citar o museu do Cais do Sertão em Recife, o museu do Amanhã no Rio de Janeiro, o Japan House em São Paulo e o museu de Congonhas. Este último será o assunto do post de hoje.

Esses museus, que não possuem coleções, fogem do modelo tradicional e, através da tecnologia e da interatividade, expõe os valores imateriais da nossa cultura.

Eu devo admitir que nunca fui muito fã de museus. Sempre preferi, em minhas viagens, perambular pelas ruas das cidades observando a arquitetura e a vida urbana. Não foi diferente ao chegar em Congonhas há 3 meses. Minha expectativa estava voltada para o Santuário de Bom Jesus de Matozinhos, obra iniciada em 1757 e concluída em 1872 e que tem como destaque entre seus artífices Antonio Francisco Lisboa (o Aleijadinho), Francisco Vieira Servas e Manoel da Costa Ataíde.

O santuário em Congonhas é composto por uma igreja localizada no topo de um sacromonte e no seu caminho, além da escadaria com esculturas em pedra (os famosos profetas de Aleijadinho), temos 6 capelas que narram os passos de Jesus. Tombado pela UNESCO como patrimônio mundial desde 1985, o Santuário é, segundo Mario de Andrade, o maior museu de escultura que existe no Brasil.

Ao finalizar minha peregrinação no santuário me dirigi ao museu. Ao contrário da tendência de se fazer "museus esculturas", o museu de Congonhas - projeto do arquiteto português Alvaro Siza cuja "a arquitetura sempre traz consigo uma sensibilidade em relação ao lugar onde está inserida, marcada por uma linguagem que é ao mesmo tempo moderna e tradicional" - não nos surpreende por fora e é bem capaz que alguns desavisados passem por ele.

Fachada do Museu de Congonhas
O museu é voltado para a história do santuário e da obra de Aleijadinho. Nos conta, através da sua interatividade, a história de Bom Jesus de Matosinhos, o início até o término da construção do santuário, passa pelo repúdio que suas esculturas causaram aos intelectuais do séc. XIX, a sua "redescoberta" pelos modernistas no início do séc. XX, o título dado pela UNESCO em 1985 e também pelas intervenções de restauro que sofreu ao longo do tempo.

Nos explica em detalhes todas as cenas das 6 capelas.

Nos explica de forma visual e didática os ofícios tradicionais e suas ferramentas.

instalação com ferramentas de ofícios tradicionais


Como não podia deixar de ser, em um museu voltado para a história de um santuário destinado a receber peregrinos, temos uma sala com exvotos.
ex votos
Ao final, nos deparamos com 2 réplicas 3D dos profetas e os espaços que aguardam as demais.


vista lateral do museu
Posso concluir o post dizendo que o Museu de Congonhas é um livro aberto que nos permite mergulhar de cabeça na história e na cultura brasileira. 

É uma visita imperdível que complementa a visita ao Santuário e, ao contrário de algumas práticas da "indústria cultural",  não inibe e nem direciona a percepção do visitante justamente por ser feita em um momento distinto à peregrinação no conjunto arquitetônico. 

* imagens da autora
* Matéria da revista Veja: Contra a crise, museus, pags. 94-97  - edição de 26 de julho de 2017

Postado por Cristiane Py